terça-feira, 30 de novembro de 2010

Um cão uivando para a lua





Um cão uivando para a lua


Abro a janela para o terreno baldio
cheio de mato, lixo e algumas cabras
(eu joguei fora todas as palavras)
– e vejo um cão uivando para a lua.

O cientista e o filósofo discutem
a origem do universo, o ser e o nada
e não sobram ideias nem palavras
– além de um cão uivando para a lua.

Latem os cães e a caravana passa,
passaram as carroças da desgraça
com as palavras da ambição dos homens
– só resta um cão uivando para a lua.

De tanto misturar o joio e o trigo,
de tirar da ostra a pérola da dor
e queimar as palavras no poema
– só resta um cão uivando para a lua.





3 comentários:

  1. E dentro do cão estão o joio, o trigo, a pérola, a dor e toda a forma do poema.

    Em um mundo de caravanas e carroças que afundam em nossos olhos, felizmente nos resta um cão uivando para a lua!

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  2. como dizia Rubem Alves: ostra feliz não faz pérola - o uivo do cão deve ser mais ou menos assim tbm.

    beijo

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  3. Nossa que lindo!!!!!

    AH! José Carlos Brandão! Um poema puro e cheio de filosofia.

    Lembrei de minha avó que comparava a lua às mães e dizia: A lua liga pra cachorro uivando? Não ouve nem se incomoda....assim é o filho ouvindo conselhos de mãe.

    Era sábia, minha avozinha!

    AMEI!

    Beijos, poeta!

    Mirze

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