Um cão uivando para a lua
Abro a janela para o terreno baldio
cheio de mato, lixo e algumas cabras
(eu joguei fora todas as palavras)
– e vejo um cão uivando para a lua.
O cientista e o filósofo discutem
a origem do universo, o ser e o nada
e não sobram ideias nem palavras
– além de um cão uivando para a lua.
Latem os cães e a caravana passa,
passaram as carroças da desgraça
com as palavras da ambição dos homens
– só resta um cão uivando para a lua.
De tanto misturar o joio e o trigo,
de tirar da ostra a pérola da dor
e queimar as palavras no poema
– só resta um cão uivando para a lua.
E dentro do cão estão o joio, o trigo, a pérola, a dor e toda a forma do poema.
ResponderExcluirEm um mundo de caravanas e carroças que afundam em nossos olhos, felizmente nos resta um cão uivando para a lua!
como dizia Rubem Alves: ostra feliz não faz pérola - o uivo do cão deve ser mais ou menos assim tbm.
ResponderExcluirbeijo
Nossa que lindo!!!!!
ResponderExcluirAH! José Carlos Brandão! Um poema puro e cheio de filosofia.
Lembrei de minha avó que comparava a lua às mães e dizia: A lua liga pra cachorro uivando? Não ouve nem se incomoda....assim é o filho ouvindo conselhos de mãe.
Era sábia, minha avozinha!
AMEI!
Beijos, poeta!
Mirze