quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O ESPELHO DO TEMPO






ESPELHO DO TEMPO


Mostra a tua face.
O espelho quebrado ainda revela
quem somos, quem és.

As águas escuras correm sob a ponte.
É a mesma ponte, são as mesmas águas.
O tempo não para, nós continuamos
no rio implacável.

Mostra a tua cara. Eu ou o outro somos
quem somos, mais nada.
Nenhuma palavra restará de nós.

Mostra a tua cara enquanto é tempo.
Cai a guilhotina nua, definitiva.
E nenhum mistério depois da miséria
do fim.







terça-feira, 13 de novembro de 2012

DIÓGENES




                                   Diógenes


Diógenes procurava um homem
com uma lanterna na mão
e era dia
o sol brilhava
os cães latiam
as caravanas passavam.

Diógenes morava num tonel
e tudo que queria do príncipe
era o sol
que saísse da frente
do sol.

Diógenes era um cínico
porque vivia como os cães
não precisava de nada
tinha uns ossos
umas pulgas
o sol
e todas as estrelas do universo. 






quarta-feira, 7 de novembro de 2012

CÓDICE






CÓDICE

A biblioteca arfa, tantos pulmões.
Quantos pássaros, planetas, estrelas e caos
respiram ali. Quanto sangue escorreu
para jamais. O universo arfa.

Sou o mártir dessa pedra? Que febre
me sustém? Que forja?
Ouça os búfalos do espanto.
Ouça a lagarta devorando a rosa.

Os cavalos sacodem a ponte sobre o abismo.
Os livros arfam, sangram, morrem e ressuscitam.
As palavras são coisas e vivem, quase eternas.
Não existe remissão, não querem remissão.
A poesia é insuficiente, a poesia prepara o fim do mundo.




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